Análise/REview | Resident Evil: Infinite Darkness (1ª Temporada)



Como uma das formas de celebrar os 25 anos de Resident Evil, a Capcom produziu uma nova animação da franquia que está sendo distribuída exclusivamente pela Netflix. A primeira temporada da série Resident Evil: Infinite Darkness (no Brasil, Resident Evil: No Escuro Absoluto), protagonizada por Leon S. Kennedy e produzida pela TMS Entertainment, estreou dia 8 de julho no catálogo da Netflix. Confira aqui a nossa análise da série (sem spoilers):

Análise por: Gabriel Scórsin


INTRODUÇÃO

Resident Evil: Infinite Darkness foi anunciado durante a TGS 2020 como uma série protagonizada por Leon S. Kennedy e Claire Redfield com um teaser trailer instigante e focado no terror. A Capcom informou que a produção se tratava de um presente aos fãs em comemoração aos 25 anos da gigante franquia de horror dos games. A dupla sobrevivente ao Incidente em Raccoon City retorna nessa série que se passa em 2006, ou seja dois anos depois dos eventos de Resident Evil 4. Leon e Claire se deparam com mais um pesadelo envolvendo o terror biológico depois de um surto na Casa Branca.



Já adianto que se você colocou expectativa na série de ver coisas novas para a franquia, você pode se decepcionar muito, já que Infinite Darkness não oferece um enredo tão rico como havia proposto. Ainda assim, é uma produção que tem seus pontos positivos e serve como um primeiro passo no novo formato, já que é a primeira animação cinematográfica e canônica da franquia a ter narração episódica.


ENREDO

Como já dito antes, Infinite Darkness se passa em 2006, dois anos depois de Resident Evil 4 ou um ano depois de Resident Evil Revelations. Se você parar e pensar no contexto da época dentro da franquia, vai ter uma noção do quanto de coisa poderia ser extraída para construir o roteiro da série. Após a Queda da Umbrella em 2003, diversos vírus e armas biológicas caíram no mercado negro e nas mãos de terroristas. O Pânico de Terragrigia, ocorrido em 2004, foi o grande evento que marcou o início do medo pelo bioterrorismo em todo mundo, já que muitos fatos de Raccoon City não foram a público.



Ou seja, a série está inserida em uma época onde o bioterrorismo se tornou uma preocupação global e o mundo teme muito por essa ameaça. Dentro disso, há várias conspirações políticas e esquemas de corrupção, pegando como exemplo o acordo ilegal do líder da FBC, Morgan Lansdale, com a Il Veltro na destruição de Terragrigia ou a reestruturação da Umbrella em 2007.


O primeiro episódio de Infinite Darkness é surpreendentemente incrível, já mostrando que a trama se aproveitará desse contexto e buscará explorar esses segredos políticos que estão em Resident Evil há muito tempo. Então, você assiste o segundo episódio, o terceiro e por fim o quarto. Quando a série acaba, você percebe que muitos fatos sobre o enredo não foram explicados, alguns nem se quer fazem sentido e que o conflito da trama não teve uma conclusão forte o bastante. Talvez seja um gancho para uma segunda temporada? Talvez. Mas ainda assim, conforme a série avança, o enredo parece que se enfraquece mais com a utilização de clichês e de vilões sem aprofundamento psicológico.



Um outro ponto muito negativo do enredo é que ele não está forte o suficiente para uma série episódica. É interessante vermos os ganchos que cada episódio deixa no final, mas considerando o conflito, a estrutura e a duração da narrativa de cada episódio, a série poderia simplesmente ser um novo filme de animação. Uma narrativa seriada procura envolver muitos conflitos entrelaçados e uma estratégia para assegurar o interesse de seu espectador. Não espere isso de Infinite Darkness.


ENREDO / LEON E CLAIRE

Aqui talvez seja o ponto mais negativo da série em geral. Quando terminei de ver os quatro episódios, brinquei dizendo a mim mesmo que ao invés do nome ser "Infinite Darkness", deveria ser "Infinite Leon". Se você esperava ver aquela dupla clássica de Resident Evil 2 trabalhando juntos, é melhor não colocar expectativa porque a narrativa deixa Leon no foco e ofusca Claire.



Resident Evil: Infinite Darkness foi literalmente anunciado com um teaser trailer focado em Claire, acompanhado com uma arte belíssima mostrando os protagonistas de Resident Evil 2 prestes a entrar em um novo pesadelo juntos. Tanto se sonhou para ver a dinâmica dos dois, ou vê-los em situações diferentes mas ambos mostrando suas forças, e Infinite Darkness não entregou isso. Os fãs que gostam muito de Leon com certeza vão curtir, mas aqueles que queriam também ver Claire em ação, como eu, devem se sentir muito insatisfeitos.



Uma rápida retrospectiva sobre o passado de Claire Redfield já mostra o quanto de habilidades ela tem e que poderiam ter assegurado um papel mais fundamental na trama de Infinite Darkness. Isso não quer dizer que ela esteja ruim na série, ela tem seus momentos e cenas fantásticas, vividas pela talentosa Stephanie Panisello respeitando sua personalidade doce e carinhosa. Mas no conjunto da obra, sua presença na trama não é significante e poderíamos considerá-la mais como personagem coadjuvante, enquanto Leon brilha em cenas cheias de emoção. Claire merecia muito mais.



E falando rapidamente sobre Leon, apesar da falta de equilíbrio entre esses dois personagens clássicos, o rapaz mostra-se fiel a figura dos outros games. Um ponto muito positivo para mim em Infinite Darkness foi ver Nick Apostollides interpretando um Leon mais maduro e reconhecido pelos demais personagens. É bom ver aquele Leon do Resident Evil 2 Remake depois de passar por uma grande transformação com o incidente em Raccoon City e resgate de Ashley. O agente continua valente, corajoso, destemido e com aquele seu senso de justiça grande, que o influencia sempre a tomar as decisões certas e procurar pelo bem coletivo.


QUALIDADE TÉCNICA

Assim como Resident Evil Vendetta , a qualidade técnica de Resident Evil: Infinite Darkness é excelente. A composição gráfica dos cenários e personagens são belas, os efeitos sonoros são ótimos, trilha sonora também muito boa e animações bem detalhadas. E no quesito de direção, devo elogiar algumas cenas de terror que conseguem construir um clima legal de suspense e que são acompanhadas com alguns sustos estratégicos. Poderíamos ter mais cenas assim de terror e mais suspense que são limitados para os dois primeiros episódios.





TEMPORADA 2?

A conclusão da trama de Infinite Darkness propõe uma continuação em uma segunda temporada, além de um pequeno gancho para a história de Resident Evil 5. Apesar da falta de equilíbrio entre os personagens e o enredo não respeitando a fidelidade a uma narrativa seriada, seria interessante ver onde esses problemas vão parar com uma nova etapa de Infinite Darkness, dessa vez, tentando corrigir os erros desta primeira temporada.


RESUMÃO



Resident Evil: Infinite Darkness, ao invés de série, poderia ser um filme. Mas já é um primeiro passo para introduzir narrativas cinematográficas seriadas na franquia com uma excelente qualidade técnica e um roteiro de grande potencial. No caso de Infinite Darkness, o enredo com poucos conflitos fica mais fraco a cada episódio e não envolve muitos fatos externos que poderiam ser explorados. Pelo menos, é um roteiro que apresenta um conceito interessante. Claire Redfield é uma personagem totalmente desperdiçada na trama da série, enquanto Leon Kennedy tem momentos incríveis e um desenvolvimento muito bom, se mantendo fiel a sua personalidade vista dos jogos. Para a primeira animação seriada da franquia, é um bom começo, mas poderia ser muito melhor.

NOTA FINAL: 5 / 10